"Aprendi que, aconteça o que acontecer, pode até parecer ruim hoje, mas a vida continua e amanhã melhora"
Fala-se muito sobre relacionamento abusivo. Vivemos na era no feminismo, do tal “empoderamento” (palavrinha estranha, mas isso não importa), das denúncias de assédio, machismo e misoginia, da luta pela equidade etc. É muita informação importante e relevante produzida sobre o tema. São estudos, relatos, diagnósticos, autoajuda, receitas, conselhos... enfim, vê-se de tudo!
É possível encontrar inúmeros textos interessantes na rede... e também receitas e exageros. Depara-se com “Superando o fim de um relacionamento abusivo”, “Como superar um relacionamento abusivo em 28 passos” (...) e mais um monte de títulos.
Existe uma verdadeira campanha para que as mulheres diagnostiquem seus relacionamentos e, caso percebam-se submetidas a tirania de seus pares, que possam encontrar forças para sair desse lugar de jugo.
Por óbvio que sair de um relacionamento assim é um passo muito importante, no entanto é a vitória de uma batalha, mas não da guerra. Nem de longe este seria o fim da história... não é bem assim que a banda toca. O sofrimento ecoa por longo tempo.
Bem, para boa parte das mulheres não seria preciso exercício de empatia e altruísmo para imaginar/saber as condições de quem vive às sujeições de um “amor doente” (se é que pode-se chamar de "amor"). Muitas de nós vivenciamos essa experiência através de amigas, irmãs, vizinhas, filha, mãe ou através de nossas próprias experiências. Vamos juntas...
Depois de anos sofrendo sozinha, choros, noites em claro, reza brava, esforço e mais um sem número de fatos esdrúxulos, ela deve começar a pensar: “Será que eu estou louca, sou fresca ou realmente já está na hora de desistir desse relacionamento (porque vivo um inferno)?”
Depois de centenas de vezes vendo-se em situações onde pensa: “Fique calada que acaba mais rápido. Não retruque que já está acabando”. Depois de várias vezes escutar o aviso do superego: “nunca argumente com alguém alcoolizado”.
Depois de milhares de vezes de “vou sair de fininho e dormir ali num canto para não me indispor”. Depois do olhar estranho de várias pessoas... Olhos abertos e bocas bem fechadas.
Depois de tudo isso e mais um pouco, a mulher vai percebendo que algo está errado, e não é com ela!
Ver-se em uma situação assim é como a sensação de observar, inerte e paralítica, a própria lucidez esvaindo-se. Indo embora. Abandonando o barco, saltando ao mar. E então, como em um filme de terror, a mulher debate-se dentro de si mesma. “É louca”, julgam.
Deve haver um momento em que a lavagem cerebral é tão grande e, ela já foi tão longe na missão de “permanecer”, que parecem ser duas mulheres habitando um só corpo.
Uma, a mulher inteligente que forjou-se na intelectualidade, olha bem para a outra: observa e julga compassivamente. A vê sucumbindo, enlouquecendo. Adoecendo. Mas a doença atinge as duas. A loucura, apenas uma. São doenças que desregulam a pele, o estômago, o apetite, a concentração e os cabelos da cabeça. Estragam o humor, embaçam a beleza, a maternidade, a produtividade e sua autoimagem.
A mulher inteligente é forte e revolucionária. Então a louca acaba valendo-se de sua fortaleza para tentar “fazer o que é certo” e permanecer ali mais um pouquinho... pushing a little bit harder. Afinal.. yes, you can! Então, por várias vezes ela assiste, inerte, sua lucidez indo embora. E vai mesmo. Lucidez que vai, doença que vem. É como ver-se impotente diante de si mesma. Imagem estranha.
Nunca duvidemos da capacidade de um homem extremamente impositivo e machista, reduzir e suprimir a inteligência de uma mulher.
Você olha para ela... moça bonita e inteligente. Forte. E mesmo assim, há tanto tempo, submete-se.
Você olha para ela... moça bonita e inteligente. Forte. E mesmo assim, há tanto tempo, submete-se.
Carolina Parrode, mulher.