terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Cristina, por Carol

No currículo da Cristina tinha que constar: mulher visionária, enxerga 100 anos adiante de seu tempo. 


Lembrando que “Mulher” e “visionária” são dois adjetivos diferentes e ambos se encaixam perfeitamente em minha amiga aqui. E mais: pessoa que não se espanta com nada e lida com todo o tipo de esquisitice de uma forma muito natural. É a pessoa que tem a gargalhada mais escandalosa que eu já escutei na vida, ao ponto de me obrigar a segurar piadas dependendo do lugar (tremendo sacrifício), para evitar escândalos (e incontinência urinária).


Não, ela não anda de patinete na linha do horizonte como muitos podem pensar! Cristina é pé no chão e bem prática. Faz o que tem de ser feito e rápido! Adora cumprir uma ‘tarefinha’ em tempo recorde (disso eu tenho ódio).
Ela também tem uma criatividade muito aguçada e um olhar detector de belezas. Ama poesias e vidas de poetas. 


É obstinada e rigorosa em relação à estética das produções dos meninos e meninas que estão sob sua tutela de aprendizagem. Muitas pessoas olham para aquele rostinho e pensam: “quão doce!” Ledo engano, meu caro! Não queira vê-la diante de um mural repleto de coraçõezinhos recortados e pequenas frases amáveis e medíocres das criancinhas. Ela se transforma, os olhos de verdes passam à coloração vermelha. É um vicking indo para guerra! Num só ímpeto ela começa a arrancar as coisas do mural e eu preciso, imediatamente, deixar o cargo de coordenadora para fazer a segurança da professora responsável pela turma! Uma emoção!


O choro excessivo é um outro capítulo à parte. Quando meus filhos nasceram, prometi à mim mesma: “jamais direi aos meus filhos para engolirem o choro, pois não existe coisa mais desumana para se dizer à um ser humano emocionado”.  Enfim, conheci a Cristina e mudei meu pensamento logo após a primeira reunião de pais. O que foi aquilo!? A pessoa chora por tudo e por nada! Hoje em dia já perdi a conta de quantos chutes na canela sob a mesa desferi, ou de quantas mensagens por whatsapp em meio às reuniões com o código ‘E.O.C.’ (engole o choro) emiti.


Recordo-me bem, em 2014, eu recém-chegada à Equipe Espaço Criativo, quando a Cristina desceu até a Coordenação, sentou-se à minha mesa de trabalho e contou-me um capítulo de sua vida.
Eu escutei atenta e silenciosamente, preocupada com minha expressão facial. Eu pensava: “será que estou fazendo cara de quem está achando tudo muito bizarro? Tomara que não! Relaxe os músculos da face!” Mas enfim, quando terminamos a conversa, logo ela levantou-se dali e foi-se. Eu fiquei pensando: “Que vidinha monótona a sua, hein D. Mariquinha!? Vai tomar atitude, minha filha!” 


Então gente, quem tem uma amiga aquariana entende bem o que eu estou dizendo. Essas pessoas têm o dom de fazer a gente parecer quadrada e conservadora enquanto você se acha a mulher mais modernosa e vanguardista do Planeta Terra. Não é justo!


Mas enfim, com o tempo eu me acostumei. E atualmente eu tenho a plena consciência de que eu sou uma pessoa normal para o ano 2017 e ela é uma pessoa normal para 2117. Sinto-me privilegiada em poder escutar seus pensamentos criativos e compartilhar de sua alegria de viver.


Eu teria muito mais coisas para registrar aqui... mas preciso me ater aos limites de paciência de nossos leitores.
So... that’s all!

Beijos carinhosos.

Carol, por Cristina

Carolina, é sábia como um antigo e frondoso baobá. Domina tudo que emoldura e vai dentro da natureza humana. Disseca almas.  


Na minha experiência,  até então, conhecer os outros era infinitamente mais fácil do que conhecer a mim mesma. Mas num tom acre, olhar sincero, sensível e amplo, Carol me faz testemunha de quem sou, em auto exame do que mais tenho de solapado. Que merda é essa?! No final, fico sem entender se é minha amiga por me conhecer ou apesar de, tão bem, me conhecer. 
Se entrega a amizade de forma bonita em percursos de intimidade e apoio. Aí que bom que é! Diariamente a assisto em doçura com os meninos, num cultivo constante de entendimento das circunstâncias do outro. 


Carol, às vezes, me constrange no uso de sapatos vermelhos aveludados com meias brilhantes! Quanta coragem!!! "What the puck?!" - só os fortes entenderão! - ou quando esganiça-se diante de grande audiência, para chamar a atenção dos filhos. Em momentos assim, sorrio amarelo explicando aos expectadores que se trata da sua prole. No final, ela ainda "rala"com a gente porque  não consigo conter o riso. 


Em nosso blog, vocês vão poder assistir a sua performance dançante na praça principal de Tiradentes. Prometo revelar essas sigilosas e ricas imagens! Apaixonada por eventos que envolvem um bom prato. Ela ama comer, mas ama ainda mais seu trabalho e sua família.  É mãe forte, poderosa e muito dedicada. Sabe fazer feliz os seus porque sabe educar os corações. Justinhamente. Ela é um misto generoso de alegria, sensibilidade e tenacidade para se posicionar. Tem força e obstinação,  mesmo quando participa de batalhas hercúleas. Seus poderes são quase sobre humanos, tipo cavaleiro andante. Isso porque acredita no amor e não nega batalhas. 

                   
Sim, a vida me ofertou uma amiga, e juntas trabalhamos, estudamos, viajamos, choramos e rimos um monte. São cultivos constantes de muito bem viver o significado de uma verdadeira amizade. Amo até!

Parto

 "Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva"

Mia Couto




            Sempre fantasiamos em partir, caminhar para longe, sermos livres para vivermos o inédito de um lugar. Depois de muito sonhar e desejar... planejamos e fizemos acontecer.
“Partir” deriva do latim partire, inicialmente “dividir em partes, separar” e logo adquiriu o significado de “afastar-se de algo, mover-se para outro lugar”. E assim fomos... foi um parto até nos movermos para um distinto lugar. A cada planejamento, nos despedaçávamos e nascíamos. De novo e de novo. Saímos das nossas conjunturas, já muito conhecidas, para inícios de outras realidades, muito diferentes, insólitas...
A ideia era nos permitir lugares estranhos. Surpresas sempre boas e não raro, invulgares. Aos poucos comprovamos o que a teoria já tinha nos ensinado: são tantos temperos, tantas cores, tantas crenças de vida, tantos sons, tantas peles... Há tanto de tudo no mundo, que cada pouco que conhecemos nos fez aumentar a sede de conhecer. Cada tanto que trazemos na volta, fez de nós incessantes na busca de aprender (e de transmitir o vivido). Afinal, tudo o que se pode oferecer de melhor ao ser humano é a experiência! A vivência, essa sim é preciosa! Essa sim é salutar e enriquece a humanidade que há em nós! Sim... isso porque acreditamos que o ser não nasce humano... humaniza-se com o tempo. Nada é tão vivo e efetivo (afetivo) quanto experienciar!


As viagens nos abrem caminhos, nos abrem para o OUTRO, na disponibilidade para ser e fazer mais. Porque nos inspira!
            Isso também pode acontecer através da leitura de um livro (ou, oxalá, indo à escola). Creditamos e agimos a favor disso, a favor da educação e da liberdade que ela nos possibilita. A “Biografia do Caminho” nos fez - e nos faz - pessoas maiores e melhores, mais conscientes da nossa responsabilidade na construção desse viver bonito para todos.
Por esse “sinthoma” compartilhado nasce esse blog, com a amorosa intenção de ser mais um membro que nos auxilia na desafiadora missão de vida destina à nós: lançar outros aos impossíveis do desejo, ou simplesmente, a Educação. No parto, nos partimos, nos refazemos, crescemos e voltamos para que, com sentido, possamos transmitir.


Cristina Moraes e Carolina Parrode, educadoras.