Sou uma pessoa realista ... não me entrego a paixões lancinantes. Assim sendo, saiba que eu não me apaixonei por você. Não foi paixão, tampouco amor. Em verdade... foi pouco.
Eu só gostei do jeito como a sua barba mal feita roçou no meu pescoço... e não só no meu pescoço, entre as minhas pernas.
Gostei de experimentar a suavidade da sua potência sobrevindo de um jeito tão gostoso que eu jamais havia provado.
Até que gostei de deitar o meu corpo suado sobre o seu, quando me cansava, ofegante;
Gostei um pouco do aconchego de adormecer sobre o seu peito sem nem perceber, depois de tudo;
Gostei da sua mão, que não se cansava de alisar meu corpo. Disso gostei muito.
Você consumia meu tempo e minhas tentativas (frustradas) de assistir um filme inteiro ao seu lado... Impossível.
Foi até razoável rir com você... E o vinho, o avançar das horas.
Também seu cheiro e sua anatomia, talvez tenham caído no meu agrado. E como se não houvesse saída, tentava me divertir com a brincadeira muda de fitar seus olhos bem de pertinho e perceber as nuances... e como mudam de tom conforme a luz.
Gostei de conversar migalhas com você à mesa, no sofá e na cama. A intimidade fez seu milagre e tudo foi ficando cada vez mais fácil, livre e delicioso...
Gostei do jeito simplório e viril com que despia-me, com o olhar. Encarava meu corpo com tanto entusiasmo que dali mesmo eu já me sentia saciada... satisfeita por nossa lascívia.
Gostei do modo como você me esquadrinhava com os olhos, com as mãos, com os lábios, com a língua... e com mais!
Mas o que eu mais gostei em você... fui eu! Foi a novidade. Na verdade, me permitir o novo. Permitir você em mim.
Entretanto, nada disso foi suficiente para que eu me apaixonasse por você. Não houve obstáculo imposto ao desejo angustiante de ter-te em meu corpo. Por isso, não permaneci. Saibas que não foste suficiente.
Só o que resta do nosso caso morto é este inventário. Medíocre. Tão comum e desimportante como o meu gostar de ti. Talvez seja importante para você saber que foi uma das mais deliciosas experiências da minha vida. E que na verdade este texto é pretexto, porque o meu gozo mora em te usar para escrever estas obscenidades.
Carolina Parrode, ficcionista