domingo, 5 de agosto de 2018

Res Publica, Res Privata

"O que é natural, não busquemos nos seres depravados, mas naqueles que se comportam de acordo com a natureza"
Aristóteles, Política.



É possível o ser humano alcançar o conhecimento genuíno? Apesar de saber que não, esse furor nunca me abandona. Deixa minha mente inquieta, meu coração angustiado e minha alma sedenta.

Uma das primeiras inquietudes como aspirante a jurista, foi quando das primeiras aulas de Direito Romano que assisti na Universidade, ainda no século XX. 
Depois de um tempo, me apaixonei por Direito Público e aí... questões e mais questões arrumei para minha vida jurídico-epistemológica! A sede de saber transformou-se em 'furor educandi' e, desde então, dou aulas de Direito Constitucional para crianças entre 7 e 10 anos de idade. 
O fato é que eu estava às voltas com Rousseau (pessoa que eu amo e odeio ao mesmo tempo, conto o motivo depois)  e des-cobri que a culpa da desigualdade econômica, social e política tem duas matrizes:
A primeira é a problemática da instituição da propriedade privada. A segunda é a própria civilização, malignamente ambígua.
Olhem só que trecho forte (porque Rousseau é o rei do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço"):
"O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer 'isto é meu' e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassinatos, quantas misérias e horrores teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas e cobrindo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: 'não escutem a esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a terra é de ninguém " (p. 80)

Pois é... minha vida tem temas e trilha sonora. E esses  antagonismos (que para mim são complementares) como "coletivo/individual", "público/privado", "de todos/de ninguém" são temas da minha vida, dentre outros, e meus neurônios se desgastam em torno deles!

Vejamos outro cenário: 
Passeando pelo Rio de Janeiro vi muros/portões pichados "Não fui eu"... desabafo e pichação em letra bonita digna da melhor professora alfabetizadora. Instantaneamente lembrei-me do artigo de João Moreira Salles para a Piauí de abril "Anotações sobre uma pichação -  Inocência, culpa e responsabilidade nas ruas do Rio de Janeiro". Na época li o artigo para meus alunos e conversamos muito sobre responsabilidade coletiva, infortúnio alheio, alteridade e empatia - delícia de aula.




Fato é que o articulista dizia assim no introito: "Não sendo enunciada por ninguém em particular, a frase pertence a qualquer um. A sensação de que "Não fui eu" fala de nós é uma confirmação de que, dado o alheamento geral, o melhor é jogar a toalha e cuidar da própria vida! (...) se cheguei aqui apesar dos outros, o que diz respeito ao mundo não me concerne. Natural, portanto, que eu me exima de toda responsabilidade coletiva. O infortúnio alheio não me pesa. Não fui eu."

Enfim... o que tem a ver um filósofo francês, a epígrafe do Aristóteles, o artigo de João Moreira Salles com a pichação nas ruas da metrópole ?! 
O que tem a ver a pichação com  reflexões sobre res pública e res privata?!
Sei não! Eu estava aqui só divagando sobre duas andanças vividas no mesmo dia: o caos da metrópole e pensamentos iluministas.

Carolina Parrode, pensante.





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